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Há muitas perguntas sobre a descoberta da BP no Brasil

September 24, 2025
Connor Chung

Key Findings

A BP foi destaque nas manchetes por uma grande descoberta de petróleo e gás na costa do Brasil.

Há muitas perguntas sobre a descoberta e a estratégia comercial mais ampla da BP.

Embora a descoberta seja a maior da empresa em 25 anos, encontrar mais petróleo não significa necessariamente mais dinheiro.

Realizar uma grande expansão na produção de combustíveis fósseis em meio a mercados em constante mudança seria uma empreitada arriscada.

Começando em 2022, a Shell ganhou as manchetes por uma grande descoberta de petróleo e gás na costa da Namíbia. Essa descoberta foi considerada um “divisor de águas” e “um novo amanhecer” para o setor petrolífero do país. No entanto, no início deste ano, a Shell anunciou a liquidação total dos ativos: A geologia desafiadora, a tecnologia arriscada e os mercados petrolíferos em baixa tornaram inútil a descoberta promissora. Foi um lembrete contundente de que, no setor petrolífero, encontrar petróleo não significa necessariamente ganhar dinheiro.

É importante ter essa lição em mente ao analisar as manchetes sobre a descoberta da BP no prospecto Bumerangue, na costa do Brasil. Para a supermajor em dificuldades, pode parecer que esta recente descoberta (considerada a maior dos últimos 25 anos) oferece uma dose bem-vinda de boas notícias. No entanto, permanecem dúvidas — não só sobre a natureza da descoberta, mas também sobre a capacidade da BP de a transformar em lucros futuros.

A perfuração offshore é cara mesmo em condições ideais, e Bumerangue está longe disso. O campo fica a 200 milhas náuticas da costa e a 2.372 metros de profundidade, com uma profundidade total do poço de cerca de 5.800 metros. Essa profundidade é maior do que a da maioria dos poços do Mar do Norte e está próxima do limite superior das profundidades normais de operação no Golfo do México. Natasha Stanton, especialista em tectônica da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, descreveu o local como uma área complexa em “uma das bacias mais complexas que já vi em minha carreira”. Testes preliminares também indicaram altos níveis de CO2 dissolvido, o que aumentaria os custos de processamento e tornaria os produtos potencialmente mais difíceis de comercializar em um mundo com restrições de carbono. Além disso, o caro mercado de trabalho offshore brasileiro ameaçaria ainda mais as margens.

Se os preços do petróleo permanecerem altos por um período suficientemente longo, os desafios de custo podem se tornar superáveis. No entanto, os mercados de futuros preveem preços reduzidos para o petróleo por mais de uma década. E sem um parceiro local ainda (a Petrobras está, segundo informações, aguardando mais testes antes de tomar qualquer decisão), a BP atualmente assume todos os riscos. A empresa talvez tenha um longo caminho pela frente antes de conseguir convencer os investidores de que este projeto será lucrativo.

Apesar dos desafios do projeto, a BP passou grande parte de sua última teleconferência de resultados comemorando a magnitude de sua descoberta. Para aqueles que haviam levado a sério a BP quando, há apenas alguns anos, ela se declarou líder na transição energética, isso pareceu uma reviravolta drástica e decepcionante. Desde aquela época, a empresa tem se esforçado para transformar essa visão em uma estratégia de investimento coerente, e os mercados têm se mostrado pessimistas em relação às suas ações. Agora, ela está recuando, abandonando os compromissos de emissões líquidas zero e as iniciativas de diversificação com energia limpa e se voltando para a exploração de petróleo e gás. Bumerangue é a décima descoberta de petróleo anunciada pela empresa este ano, após descobertas em Trinidad, Egito, Golfo do México, Líbia, Namíbia, Angola e outras regiões do Brasil.

A BP pode estar esperando que essa sua última reviravolta estratégica acalme os mercados. No entanto, uma estratégia de expansão dos combustíveis fósseis apresenta riscos significativos e pode fracassar se a demanda global por petróleo e gás diminuir mais rapidamente do que a empresa espera. Além disso, as agências de classificação de crédito têm apontado que a transição energética se tornou um risco financeiro significativo para os produtores de combustíveis fósseis, e as próprias projeções da BP alertaram que a concorrência de baixo carbono pode prejudicar as perspectivas de crescimento do petróleo. Por fim, com alguns acionistas já céticos em relação à disciplina de capital da empresa, os mercados podem recuar diante do custo de projetos mais novos e arriscados.  Os investidores se lembram bem do mar de prejuízos da última década, quando o hábito das supermajors de gastar mais dinheiro em dividendos e recompra de ações do que geravam com a venda de petróleo e gás se mostrou desastroso para sua posição de fluxo de caixa.

Ainda é muito cedo para saber se o bloco Bumerangue movimentará os mercados. Mas os próximos passos da BP no Brasil provavelmente revelarão muito sobre sua estratégia geral de negócios em um mundo em transformação. Se a empresa avançar com empreendimentos como o Bumerangue, estará fazendo uma aposta agressiva e arriscada na durabilidade da demanda por combustíveis fósseis no longo prazo.

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Connor Chung

Connor Chung is an Energy Finance Analyst at IEEFA. He studies how climate change and the energy transition impact financial markets, and how financial institutions are responding to a warming world.

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